MUNDOS TROCADOS
Nessa postagem, quero lembrar o projeto "Mundos Trocados", iniciado espontaneamente por mim, nominado e potencializado por meu prezado "cumpadi" e "personagem" frequente dessas páginas: Luc Pereira.
Olha aí o homem:
O projeto mei' que se inspira nas expedições de Mário de Andrade aos sertões brasileiros de quase um século atrás.
A proposta é mais ou menos a mesma de Mário e seus parceiros da época, mas amparada na moderna tecnologia de coleta e publicização de dados: devorar e digerir a cultura popular sertaneja, recria-la a partir dos recursos da modernidade e transmitir os resultados disso tudo e mais alguma coisa de cá pra lá e de lá pra cá para que passem por novos processos de agito, mistureba e fermentação.
Saquem só como a Mônica, na foto abaixo, à esquerda, integrante da Trupe do Tirésio nesta viagem ao vale do Fanado, se mescla organicamente ao sonho vivo do dia comum da molecada.
E o olha que lá vem os cem anos da Semana de Arte Moderna e pouco se fala do projeto andradiano de troca de mundos.
Há vinte e cinco anos, sem faltar um único ano, viajo de São Paulo ao Vale do Jequitinhonha, onde permaneço de um mês a cinquenta dias, durante minhas "férias", sempre levando e sempre trazendo pequenos grandes tesouros culturais.
Convido a todos para uma visita às demais postagens deste blog que vêm oferecendo um panorama de minhas atividades enquanto exerço, nos sertões remanescentes de Minas, seguindo os passos de Mário de Andrade, os ofícios de "turista aprendiz": fotógrafo, videomaker, flâneur errantemente ativista, escritor.
DE LÁ PRA CÁ:
Trago um arsenal pulsante de registros visuais e esboços literários que vou, aos trancos e barrancos, organizando, sistematizando e desdobrando, durante o ano, de volta à capital.
Além dos registros, carrego para São Paulo objetos da arte popular, sobretudo peças de cerâmica utilitária e decorativa, além de matérias primas de artesão e agricultor: sementes e mudas nativas, argilas de diversas origens e qualidades técnicas e corantes minerais desenvolvidos e usados por "paneleiras", "bonequeiras" e "cronistas do barro" que são abundantes no vale. Em casa, os utilizo, da forma original ou combinados com elementos da indústria moderna, em minhas práticas, como fica explícito na primeira postagem deste blog.
DE CÁ PRA LÁ:
Para a gente amiga sertaneja ali retratada (em visitas familiares, no calor das festas e folias de roça, ao vivo e em cores durante as atividades artesanais, laborais e comerciais), levo e distribuo centenas de fotos autorais impressas e dezenas de cópias de DVDs contendo algumas das imagens que recolhi no ano anterior.
Costumo igualmente, sempre que possível, recolher entre amigos uma boa quantidade de revistas, revistinhas e livros usados, sobretudo os infantis, e os redistribuo pelo sertão de casa em casa, em minhas visitas, ou durante os festejos.
Esta circulação de dádivas é o modo original que encontrei de me inserir modernisticamente no sistema de dons e contra-dons que caracteriza as folias.
Para que o leitor ou leitora possa ter uma ideia de como acontece o espetáculo da revelação dessas retratações ao público local interessado, recomendo o texto abaixo.
Seguindo meus passos, Luc Pereira, a seu modo impactante, primeiro, mandou reformar um caminhão da década de 1960, montou numa das laterais uma telinha de cinema e passou a viajar com sua tropinha preciosa por São Paulo e Minas exibindo, em pequenas localidades roceiras, as pérolas do cinema nacional.
Finalmente, desembarcaram no Vale do rio Fanado, às portas da Bahia. Ao longo da curta viagem, exibiram "O Palhaço" e "Auto da Compadecida", com maior ou menor sucesso de público, conforme a comunidade: Vendinhas, Macaúbas, Galego, Bem Posta e Forquilha.
Também houve farta distribuição para a criançada das histórias em quadrinhos da "Turma da Mônica".
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